A gente cresceu achando que sentir ansiedade era sinal de que algo estava errado. Que aquele aperto no peito, a mente acelerada, o medo do que vem pela frente eram sintomas de uma falha interna — algo que precisava ser consertado, apagado, vencido.
Mas e se a ansiedade não for o problema?
Essa é a proposta de David Rosmarin, psicólogo e professor da Harvard Medical School. Ele tem uma visão diferente — e muito mais humana — sobre esse tema tão comum (e tão mal compreendido). Segundo ele, a ansiedade não é um inimigo. É parte da vida. Parte de ser humano.
Ao invés de lutar contra ela, que tal aprender a conviver com ela, a entender de onde vem e o que ela pode nos mostrar. Porque, por mais incômoda que seja, a ansiedade também pode ser útil. Ela pode nos fortalecer, aproximar a gente dos outros e até nos conectar com algo maior.
Sim, é possível viver melhor com a ansiedade — mas o primeiro passo é parar de vê-la como um monstro.
A ansiedade, na verdade, é uma reação natural do corpo. Quando algo nos preocupa, o cérebro aciona o famoso “modo de alerta”: o coração acelera, o corpo se prepara. É como um alarme interno que diz “atenção!”. E por mais que isso seja desconfortável, não significa que tem algo errado acontecendo. Significa que o nosso sistema está funcionando.
O problema é como a gente interpreta isso. Em vez de entender como um sinal de funcionamento normal, tratamos como sinal de falha. Aí começamos a lutar contra a sensação, tentando controlar cada pensamento, evitar qualquer situação incerta, fugir de tudo que possa “disparar” esse alarme. E quanto mais lutamos, mais presos ficamos.
A ansiedade só piora quando a gente tenta eliminá-la a todo custo. Mas se a gente aceita que ela faz parte da vida, pode aprender a usá-la de forma positiva.
1. Usar a ansiedade para crescer
Sentir desconforto é difícil, mas enfrentar o que nos assusta nos deixa mais fortes. Isso não significa se jogar no abismo, mas aos poucos, encarar pequenas situações que normalmente evitamos. Pode ser falar em público, iniciar uma conversa difícil ou até pensar em algo que nos preocupa por cinco minutos por dia.
A ideia é treinar a mente para entender que sentir medo ou insegurança não é o fim do mundo. É só parte do caminho.
2. Usar a ansiedade para se conectar com os outros
Falar sobre nossas ansiedades com alguém de confiança cria laços verdadeiros. Quando dizemos “tô me sentindo ansioso” em vez de “tá tudo bem”, abrimos espaço para conexões reais. Mostrar o que sentimos — mesmo que seja difícil — nos aproxima das pessoas.
Ao longo da vida, o que mais contribui para o bem-estar não são conquistas ou dinheiro, mas a qualidade dos nossos relacionamentos. E esses relacionamentos nascem da autenticidade.
3. Usar a ansiedade para cultivar humildade e espiritualidade
A ansiedade aparece, muitas vezes, quando percebemos que não temos controle sobre tudo. E está tudo bem não ter. A vida é cheia de incertezas, e tentar controlar cada detalhe só nos desgasta.
Reconhecer nossos limites, aceitar que não sabemos tudo, que não podemos prever o futuro, pode nos trazer paz. Pode nos lembrar de que somos parte de algo maior. Essa consciência — esse soltar o controle — é uma forma de espiritualidade.
A ansiedade não vai desaparecer da nossa vida e isso nem seria bom. Ela faz parte do que somos. Mas podemos mudar a forma como nos relacionamos com ela.
Em vez de lutar contra, aprender a caminhar junto. Em vez de sufocar, escutar. E quem sabe, no meio do desconforto, encontrar força, conexão e até um pouco de beleza.
